Low carb, suplementos e ideias conservadoras #108
Com seguidores na casa dos milhões, Maíra Cardi, Lara Nesteruk, Gabriela (ex-Pugliesi) e Virgínia Fonseca vendem muito mais que barrigas trincadas
Olá, venener, tudo bem? Bom sábado pra você. Passada a época carnavalesca, os supermercados já começam a expor os ovos superfaturados com aroma de cacau e 2025, enfim, começa.
Depois de um ano de treino funcional e boxe em casa, estou oficialmente matriculada numa academia. É dessas de bairro mesmo, sem um haddadzinho investido em publicidade, bicicletas caindo aos pedaços, um único banheiro, guarda-volume sem chaves disponíveis, uma TV na frente das esteiras onde velhinhos assistem ao noticiário local, área de alongamento num canto sem ar condicionado, predominância masculina e prateleiras com whey e creatina na recepção. Resolvi avisar porque nunca se sabe, né? Posso ser abduzida e do nada começar a aliviar a canetada nos modismos controversos. Por ora, o jornal que não deveria existir mantém a linha editorial hahahahaha.
Boa leitura ;)
🌎Bonde da magreza versão 2.0
Maiores influenciadoras de lifestyle e emagrecimento do país também disseminam agenda conservadora e produtos sem evidências
No dia 21 de janeiro, Maíra Cardi Nigro, 41 anos, entrou ao vivo no Youtube para anunciar a última edição do “Seca Você” e o encerramento da sua trajetória como coach de emagrecimento. Vestindo um longo preto brilhoso com gola no pescoço e transparência na cintura, a influenciadora abriu a transmissão enquanto caminhava pelos cômodos de sua mansão em Alphaville, São Paulo, comprada do jogador Neymar.
Antes de abordar o conteúdo prometido, Maíra puxou uma oração para que Deus tocasse no coração das 16 mil pessoas que assistiam ao vídeo e desejavam ser transformadas, além de agradecer por ter sido capacitada por ele para entregar tudo o que as internautas precisam, como curar doenças e ser infinitamente saudáveis e abundantes.
Ao contrário do que anunciara 11 dias antes em suas contas nas redes sociais com direito a um link de inscrição e grupo exclusivo no WhatsApp, essas três noites de transmissão ao vivo não se tratavam do curso em si. No fim do primeiro dia, a esposa do Primo Rico esclareceu que seriam apenas um aperitivo. O último curso de emagrecimento de sua carreira estava com as inscrições abertas a partir daquele momento e sairia por apenas 11 parcelas de R$99,00. Segundo Maíra, qualquer pessoa online poderia arcar com o custo. Bastava, por exemplo, fazer uma faxina por mês. Quem não se inscrevesse, não poderia usar o aperto financeiro como desculpa. Era uma questão de não querer ser transformada e continuar tendo um corpo semelhante a uma casa em frangalhos.

A primeira noite ao vivo do pré-curso foi dedicada ao relato de sua trajetória pessoal, ao histórico de doenças da família, incluindo um pai e um avô que não tiveram a coragem de mudar hábitos e faleceram de forma precoce, e do seu câncer de tiroide. Em seguida, ouvimos pinceladas sobre o seu método de emagrecimento e exemplos de celebridades que a procuraram para tal. Cleo Pires teria investido R$ 150 mil pra secar em poucos meses com o método Cardi.
Nascida em São Caetano (SP), Maíra Nigro ganhou status de celebridade ao participar da edição de 2009 do Big Brother Brasil, na TV Globo, quando já se identificava com a imagem fitness. Após o programa, a empresária migrou pros Estados Unidos, onde concluiu cursos técnicos de nutrição e nutrição esportiva. Em 2016, abriu o canal Gordices Saudáveis no Youtube. Um ano depois, já atuava como coach de emagrecimento quando a amiga Anitta anunciou publicamente ter contratado seu serviço. Em abril de 2017, a cantora carioca afirmou no seu perfil de Instagram:
“Para quem não sabe, a Mayra é life coach. Ela cuida da alimentação, do treino, da mente. Te ajuda a não ficar pensado em comida o dia inteiro, como eu ficava... Ela falou que cada vez que eu falar de comida eu vou ter que correr uns trinta minutos. Ela assistiu aos meus Snaps enquanto eu tava de férias, que eu estava comendo igual à população inteira do Brasil, e me propôs um desafio. Vai no Instagram dela, tem vários antes e depois de todo mundo que ela cuida. Daqui a pouco vai ser o meu (...). Ela vai ficar me acompanhando durante um mês, e vocês vão acompanhar a diferença. Se Deus quiser, vai dar certo. É treino todo dia, umas comidas que ela vai fazer eu gostar..."
A parceria fez o nome Cardi explodir em revistas, sites e redes sociais, outros famosos buscarem seus serviços e provocou uma mudança no seu método de emagrecimento. A partir de Anitta, Maíra percebeu que precisava transformar mais do que o corpo dos clientes. Era necessário incidir sobre sua mente, a alma e a vida como um todo. Pra quem se inscrevesse no seu curso de despedida, divulgado em 21 de janeiro, a coach prometeu promover a “benção da magreza” e ensinar estratégias para equilíbrio emocional capazes de zerar a ansiedade. Conforme suas próprias palavras, não comemos pão, mas raiva, tristeza. Também somos controlados pelas coxinhas e presidiários dos refrigerantes.
Essas não foram as primeiras frases polêmicas e refutáveis proferidas pela influenciadora paulista. De tempos em tempos, profissionais da ciência se pronunciam individualmente ou por meio dos conselhos e associações do setor para contestá-la. O seu primeiro curso, “Mayra Cardi Seca Você”, fez com que o Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, sediado em São Paulo, denunciasse que a empresária não está habilitada a exercer atividades exclusivas aos nutricionistas, como elaborar cardápios. A mesma iniciativa foi repetida pelos conselhos do Rio de Janeiro e do Mato Grosso do Sul.
Cardi também já se envolveu em barracos virtuais e em processos na Justiça com ex-clientes e profissionais da saúde. Mas a maior novidade na trajetória da celebridade fitness, que acumula mais de 10 milhões de seguidores nas redes sociais, é a sua guinada religiosa.
Depois do casamento com o coach de finanças Thiago Nigro, em 2023, Maíra parece planejar e pensar cada passo de sua carreira estrategicamente. Desativou seus perfis nas redes sociais por 6 meses e voltou repaginada. Encurtou o cabelo, passou a cobrir mais o corpo, a citar Deus em seus vídeos de forma assídua, disse que deseja ser submissa ao marido todos os dias e lançou o livro: “O que se come no céu - como dominar os três principais portais que alimentam nosso corpo, mente e alma”.

Durante o período em que o último “Seca Você” esteve com inscrições abertas, Maíra (que trocou o y pelo i ao longo da carreira) foi notícia na imprensa com situações aleatórias envolvendo a filha, procedimentos estéticos e seus funcionários. Em sua nova fase, ela conta com a presença frequente do marido. Escreveram o livro juntos, ele também compõe um módulo do curso de transformação, sobre abundância, e apareceu nas três noites de transmissão ao vivo destacando o quanto a esposa é virtuosa.
Apesar de seguir a linha da barriga trincada, fruto da “benção da magreza”, e despontar nas redes sociais com dicas de emagrecimento, Lara Arroyo Nesteruk Moreira passa longe do perfil recatada e do lar. A nutricionista de 38 anos aparece fumando com frequências nos stories, bebe refrigerante sem receio de julgamentos, frequenta clubes de tiro, apoia a ideia de que professores se armem para evitar chacinas em escolas e defende o livre mercado abertamente, inclusive como saída pra tirar as pessoas da pobreza. Em 2020, precisou se retratar após um acordo com o Ministério Público do Trabalho ao alegar publicamente que evita contratar mulheres, já que podem engravidar e ferrar com o seu negócio. Também já participou de um videocast do canal Brasil Paralelo, de viés político alinhado à extrema direita.
As fotos e destaques sobre low carb, treinos e processo de perda de peso foram perdendo protagonismo no seu perfil do Instagram nos últimos anos. Nesteruk informou, inclusive, que parou de atender como nutricionista. Agora se dedica a um curso com dicas de negócios e oferece aos seguidores um aplicativo pago onde compartilha reflexões diversas.
De todas as influenciadoras associadas ao universo fitness e emagrecimento, a empresária paulista têm o discurso mais sedutor. Sem dúvida, reúne mais de 1 milhão de seguidores sem ter participado de um reality ou ostentar amigos famosos porque rompe com o que se espera ouvir de uma mulher loira, maquiada, de barriga tanquinho e segurando uma bolsa de R$2 mil no ombro. Lara responde perguntas dos seguidores de todos os temas possíveis de forma enérgica, desde dúvidas sobre como lidar com um marido agressivo até o segredo pra conquista do corpo dos sonhos. Mas ao contrário de Maíra Cardi, que chama o público de “deusas”, Lara sobe o tom, puxa orelha, manda estudar.
Embora apresentem discrepâncias entre si, influenciadoras desse universo costumam repetir a fórmula de associar magreza e corpo sarado à aceitação social, melhora da vida financeira, à realização e felicidade como um todo. Dependendo do quão conservadores são os seus valores, também condicionam tudo isso à conquista do casamento dos sonhos, da família margarina.
É a nossa infinita insatisfação com várias esferas da vida e com o próprio corpo, especialmente quando os comparamos com as deusas trincadas milionárias, que sustenta essa era de aconselhamentos, de idolatria de indivíduos nas redes sociais. Por isso, não é coincidência. Essa galera foca o seu conteúdo em autoaperfeiçoamento sem contexto histórico ou crítica social ao mesmo tempo em que comercializa cursos próprios, métodos exclusivos, aplicativos, roupas fitness, livros e, claro, suplementos. Muitos suplementos. Um pra cada objetivo.
Gabriela Morais (ex- Pugliesi), 39 anos, ganhou notoriedade ao compartilhar sua rotina de treino e estilo de vida namastê-fitness. Foi tão pioneira em divulgar shots de cúrcuma, exercícios intensos e práticas de yoga à beira da praia que ganhou uma hashtag em sua homenagem quando tudo ainda era mato: #geraçãopugliesi.
No fim do ano passado, Gabriela mudou-se com os filhos e o marido para Punta Del Leste pra fugir da insegurança brasileira. Como explicou aos seguidores, a escolha da cidade uruguaia se deu porque se trata do local mais parecido com a Europa que não cobra em euro.
A influenciadora baiana também cita Deus em suas postagens e carrega um legado de polêmicas. Há dez anos, no seu perfil na rede social Snapchat, Gabriela aconselhou as seguidoras a enviar nudes pras amigas e pedir que publicassem as imagens como forma de punir possíveis fracassos no processo de emagrecimento. Na mesma linha, recomendou que colocassem um chocolate na boca pra matar a vontade, mas cuspissem em seguida, além de indicar a prática de comer pelada na frente do espelho pra sentir vergonha do próprio corpo e segurar o apetite.
Assim como Maíra Cardi, Gabriela não possui formação que lhe permita sugerir cardápios e prescrever exercícios. Em 2017, o Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro e o do Espírito Santo (Cref1) encaminharam uma queixa-crime ao Ministério Público contra a influenciadora por exercício ilegal da profissão. No momento, ela possui um aplicativo próprio de treinos chamado Ritua e é sócia da rede de academias Velocity.
A empresária ainda acumula um histórico de advertências do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) por publicidade velada, ou seja, por promover um produto sem sinalizar que se trata de uma ação de marketing. Em 2019, porém, o Conselho acatou uma denúncia diferente, de uma seguidora que acusou Gabriela de promover benefícios do desinchá sem comprovação científica. Nos stories do Instagram, a influencer contou que levaria o blend de ervas pra uma trilha com o objetivo de acelerar o metabolismo. A Desinchá esclareceu ser uma iniciativa da própria Gabriela, que se comprometeu a ter mais cautela em postagens semelhantes.
No entanto, produtos sem benefícios comprovados pela ciência continuam a aparecer no seu perfil de Instagram de 5,6 milhões de seguidores. O que mudou é que a maior parte deles agora compõe o portifólio de sua própria empresa, lançada em 2022. A Gaab Wellnees oferece uma linha de skincare, de colágeno e suplementos alimentares, como a fórmula da beleza. Sim, a empresária fitness promete espalhar beleza por meio de um pozinho. O seu preferido é o sabor melancia.
Vale observar que não há um conjunto robusto de evidências que comprovem os benefícios da suplementação de colágeno até o momento. A situação do ingrediente remete à da creatina, em que muitas pesquisas capazes de apontar benesses do seu consumo são patrocinadas por empresas de suplementos.
A marca também oferece um “boost pra imunidade” para os dias mais frios do ano enquanto a ciência nunca foi capaz de concluir que um alimento ou um suplemento alimentar são capazes de aumentar a imunidade. O que temos de evidência sobre a cúrcuma, principal ativo do produto citado, é que ela possui propriedades antiinflamatórias, mas que não são suficientes pra evitar que alguém pegue um resfriado ou aumente a produção de leucócitos no corpo.
Outra celebridade digital que incluiu suplementos da moda na sua própria linha de cosméticos foi Virginia Pimenta da Fonseca Serrão Costa, de 25 anos. Nora do sertanejo Leonardo, mãe de três filhos, apresentadora do SBT e dona da marca WPink, a empresária soma mais seguidores que Xuxa, Angélica, Eliana e o time do Flamengo.
Ao contrário de Maíra, Lara e Gabriela, Virgínia não despontou na internet como referência em emagrecimento e estilo fitness. A loira abriu um canal no Youtube aos 17 anos pra falar de beleza e já alcançou 100 mil inscritos no terceiro vídeo. Depois de assumir um relacionamento com o cantor Zé Felipe e virar dançarina nos videoclipes do filho de Leonardo, não parou mais de crescer.
Nascida nos Estados Unidos, Virgínia passou a morar em Governador Valadares (MG) aos três anos. Há cinco vive em Goiânia com a família e mais de 15 funcionários, tendo viagens de jatinho a São Paulo ou ao exterior com frequência na rotina. A influenciadora cristã, que costuma escrever “toda honra e glória a Deus” em cada postagem pode ser resumida como um fenômeno. O aplicativo da WPink ultrapassou o da Magazine Luiza e da Shein entre os apps de e-commerce mais baixados no ano passado. Sua fortuna já supera a do sogro sertanejo, assim como os casos polêmicos envolvendo seu nome.
O mais recente envolve a espetacularização da internação do filho mais novo, com bronquiolite. A influenciadora chegou a colocar a imagem da criança respirando com auxílio de oxigênio como foto oficial do seu perfil e agradeceu o engajamento recorde. Em janeiro, seu nome compunha a lista de influenciadores denunciados pela revista piauí por lucrar em cima do que seus seguidores perdiam em apostas online. De acordo com a reportagem, Virginia ganharia R$30 a cada R$100 que um seguidor seu perdesse apostando com o link de jogo divulgado pela mesma.
Virginia Fonseca é a influenciadora raiz. Abre a câmera na hora que acorda, ainda na cama, e segue conectada até se despedir do seu público, já embaixo dos lençóis e pronta pra dormir. Também não pode ser definida como produtora de conteúdo digital de um único nicho. As postagens da empresária focam na rotina da casa, das três crianças, do marido, de looks, de treinos, tratamentos estéticos, zoações com os amigos, e no meio disso tudo entram inserções comerciais dos seus produtos, sempre com promoções em destaque, e outras publicidades.
A partir da gravidez de seu filho mais novo, quando engordou 27 quilos, a empresária foi aterrissando no universo fitness. Dois meses após dar a luz, Virgínia chocou a internet ao exibir uma barriga trincada e 20 quilos a menos. O processo de emagrecimento foi exibido em detalhes nas redes, o que inclui uma rotina de 20 ovos por dia, muitos deles sem a gema, outras pequenas refeições low carb, a substituição de doces por banana amassada com whey e a ingestão de suplementos de sua própria marca.
À medida que emagrecia, Virginia ampliava o leque de produtos fitness oferecidos pela WPink. Mesmo após perder os quilos extras da gestação, a influenciadora continua mostrando a família comendo churrasco e pudim, enquanto ela opta pelos ovos e panquecas de whey. Seus funcionários também aparecem em diferentes casas da família preparando receitas com os seus produtos, como a pizza polvilhada por whey protein. Todo mundo aprovou a delícia.
Nas manhãs, a influencer cristã costuma abrilhantar a internet com o seu “café da manhã dos campeões”. Já é tradição no perfil. A refeição consiste numa fileira de cápsulas e gominhas vendidas por ela mesma. Um dos produtos promete melhorar a saúde de cabelos e unhas, benefício tampouco comprovado pela ciência. O mesmo acontece com os pré-treinos em pó, que não podem alegar reduzir a fadiga e melhorar o desempenho na prática de atividade física.
Se vivessem na Austrália, Maíra, Gabriela e Virgínia precisariam recalcular a rota nas redes sociais. Desde 2022, o país proíbe influenciadores de associarem experiências pessoais à produtos e serviços de saúde ou bem-estar. A medida foi aprovada após o escândalo Belle Gibson, que acaba de ser contado na série Vinagre de Maçã, da Netflix. A influencer compartilhava a rotina de um tratamento de câncer e garantia pros seguidores que tratava a doença apenas com alimentação. Lançou livro de receitas, aplicativo, virou febre por lá, mas era tudo invenção sua.
O Brasil é o segundo país em número de influenciadores. Perde só pros Estados Unidos. Apenas no Instagram, são 500 mil figuras com pelo menos 10 mil seguidores. A gente aqui também ostenta a marca de segunda nação que mais segue essa turma: 44,3% dos usuários de internet seguem alguém que vive da exposição da própria vida nas redes.
Uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência, em 2020, mostra que saúde e beleza aparecem como os temas mais procurados pra alguém passar a acompanhar um influenciador nas redes. Por outro lado, não temos legislação que incida sobre o tipo de conteúdo vinculado por essa galera. Só temos o artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor, que diz: “A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.”
Qualquer Silva pode sair proferindo conselhos pra emagrecer (não importa o quão perigosos sejam), pra enriquecer, pra encontrar Jesus ou tudo isso ao mesmo tempo. Estamos longe de aprovar o PL das Fake News, a Meta anunciou o afrouxamento da moderação de conteúdo nas suas redes e cada vez contamos com menos subsídios para formar pensamento crítico. Desde 2020, por exemplo, a rede estadual de São Paulo reduziu em 62,9% a carga horária das disciplinas de sociologia e filosofia em suas escolas.
E vamos combinar: nenhuma estrutura vai se mover enquanto continuarmos reféns das telas, da balança e do espelho.
🔎Pra acompanhar
Azeite. Apesar da perspectiva de recuperação na produção europeia desse ano, os preços do azeite não param de subir e têm poucas chances de melhorar por aqui. De olho nisso, as empresas Gallo e Olitaia têm enchido os supermercados brasileiros com o óleo de bagaço de oliva, produto extraído da segunda prensagem das olivas. E preço continua salgado, em torno de R$39,90. Ao contrário do café falso, a Anvisa permite a venda desse óleo desde que fique claro do que se trata, ou seja, não é azeite extravirgem.
Rei do gado. Um jovem agronejo produtor de leite acaba de comprar uma vaca por R$ 2 milhões. O goiano Murilo Huff, de 29 anos, almeja criar animais com uma assinatura genética própria.
Agronegócio verde. Finalmente chegamos num custo pras emissões de carbono da agropecuária brasileira: 11,54 dólares por tonelada de gás carbônico equivalente (US$ 11,54/tCO2e). O cálculo vai facilitar o mercado de compensação de carbono, encher as certificadoras de grana e aliviar a imagem das grandes empresas. Não é maravilhoso?
Ameaça. Maior lago da América do Sul, no Peru, sofre com a seca e ameaça a subsistência dos povos indígenas.
História. A mandioca foi domesticada pelos povos originários há seis mil anos na parte sul da Amazônia e se espalhou pelo continente americano muito antes dos europeus invadirem. O povo Waurá, que vive no Mato Grosso, promove cruzamentos espontâneos e amplia a diversidade da planta, que passa de 500 variedades.
É hora de dar tchau…
Olha, vou precisar tirar férias depois dessa edição, hein? Comecei a pesquisa pra tudo isso se concretizar no dia 3 de janeiro. Acompanhei três noites de Maíra Cardi ao vivo no Youtube, a rotina de publicações das quatro influenciadoras citadas, mudei a direção desse texto um milhão de vezes.
E não foi fácil. Seguir o dia a dia de mulheres tão magras que ressaltam o corpo esculpido o tempo todo e o associam à valores morais desenterrou muitas lembranças ruins em mim. Comecei a sentir várias inseguranças que já tinha resolvido no começo da vida adulta. Mas escrever essa edição funcionou pra organizar melhor esses sentimentos e retomar o prumo. Aliás, esse Jornal do Veneno não teve o objetivo de demonizar ninguém. Poderia ter escolhido outros nomes, outras empresas. Todo esse cenário reflete problemáticas dos nossos tempos, né? E dieta e política andam muito mais próximas do que a nossa vã filosofia imagina.
Obrigada pela leitura até aqui e por seguir junto comigo nas inquietudes.
Um beijo e até sábado que vem,
Juliana.
Sabe o que é triste? Quando eu compartilhar isso, alguns vão pensar que estou com inveja por não ter um corpo como o dessas mulheres.
Obrigada por essas altas doses de realidade semanal, Juliana!
Parabéns pela edição! Isso é tão sério.. é tão fácil jugar quem consome esses conteúdos, mas precisamos lembrar que é muito fácil ser fisgado nesse mundo onde as pessoas tem cada vez menos pertencimento com a comunidade e entorno. Essas figuras preenchem um papel importante na vida das pessoas, são seus vínculos. Regulamentar para proteger as pessoas de que essas figuras enriqueçam em cima do vazio existencial que o capitalismo causa. Regulamentar para que saúde não seja um produto possível de ser adquirido em cápsulas!