Olá, venener. Bom sábado pra você! A gente podia estar como neste momento? Planejando uns bons drinks pra ver a kinga fazer história em Copacabana. Mas não dá nem pra curtir uma diva pop em paz nesse país, né? Essa semana vai ficar marcada pela privatização da empresa de água e esgoto de São Paulo (depois a justiça anulou a votação), pela pior enchente da história, que atingiu 235 municípios gaúchos, e por outra coisa que parece pequena perto dessas duas, mas que merece um olhar atento.
Na última segunda, os organizadores do Rock in Rio anunciaram que o penúltimo dia de evento será exclusivo da música nacional e vai reunir artistas que representam os grandes estilos musicais brasileiros. Só esqueceram que o Brasil não acaba ali no Mato Grosso. Absolutamente nenhum ritmo da região Norte, das aparelhagens ao carimbó, foi contemplado. E isso a poucos meses da COP30, em Belém, hein? Olha, eu achei no mínimo vergonhoso, mas não deixa de refletir o jeito como o resto do Brasil olha pra região amazônica, né? É quase um fetiche, uma abstração.
Ainda na editoria cultura, nesta semana o querido Irandhir Santos, na pele do sofrido Tião Galinha, em Renascer, não deixou dúvidas de que estamos diante do MAIORAL. Até gravei um trechinho do capítulo de terça porque além da atuação digna de prêmio, as palavras ditas pelo Tião conversam com os nossos papos aqui:
🌎 GIRO DE NOTÍCIAS
O que fazer após a 4ª tragédia climática no Rio Grande do Sul em menos de um ano?
No mês passado a gente contou as vítimas das enchentes no Acre, na região Norte, estado que vem sofrendo com as queimadas por integrar a nova rota da soja. Pouco depois, agora em maio, a terra de Elis Regina contabiliza a sua 4ª enchente com vítimas em menos de um ano, mas dessa vez em proporções astronômicas. São cidades inteiras engolidas pela água.
Não vou replicar aqui as imagens chocantes de destruição pois você já teve ter visto dezenas delas nos grandes jornais e nos grupos de WhatsApp. Tampouco vou listar os estragos, que já passam de 100 vítimas, abrangem mais de 200 municípios e devem formar talvez a maior tragédia ambiental já vivida pelo entorno. Vou seguir o caminho da mensagem que recebi no Instagram do Comida, enviada por uma seguidora gaúcha.
É claro que neste momento as ações precisam ser voltadas pro resgate das pessoas e dos animais, pra reconstrução das casas, pros equipamentos públicos, adiamento de eventos importantes, pra recuperação da infraestrutura básica de água, esgoto e energia, e pras políticas de reparação econômica, como acesso à crédito a microempresas, liberação de FGTS e ajuda pra garantir os direitos básicos às pessoas em situação de vulnerabilidade.
Por outro lado, é inegável que os nossos veículos de comunicação seguem insistindo num padrão de cobertura jornalística xoxa, capenga e negacionista. São reportagens e mais reportagens com números atualizados das tragédias e imagens de pessoas em situação desoladoras, mas de forma aleatória, sem contexto, sem informações que conectem o acontecimento a fatos maiores e mais abrangentes, como a EMERGÊNCIA CLIMÁTICA.
Essa escolha despolitiza, evita que as pessoas reivindiquem direitos, que entendam o tamanho da omissão do estado, que briguem por ações efetivas, estruturais. Vou me debruçar, então, nessas informações que os jornais poderiam ter dado e nas perguntas que precisam ser feitas à gestão do governador sapatênis.
👀 Por que, céus, o governador Eduardo Leite foi pedir ajuda ao esposo da Janja pelo Xuíter? Não existe um protocolo oficial nesses casos? Foi só pra aparecer? E por que isso só foi feito quando começou o estrago? Desde o dia 25 de abril já existia o alerta de chuvas excepcionais no estado, semelhantes ao que foi registrado na tragédia do ano passado. O governo federal já não devia ser acionado antes pra trabalhar em conjunto num plano de ações?
👀 Como que o governo e a Defesa Civil mantiveram tudo funcionando diante do risco iminente? Não era pras pousadas de Gramado e Canela, por exemplo, estarem recebendo turistas!!!! Pelo amor de Deus, é o mínimo!
👀 Quando a Defesa Civil emite um alerta de que as pessoas precisam deixar suas casas, o que acontece em todo o país diante de chuvas intensas, elas são orientadas aonde ir? Quem vai auxiliar o deslocamento? Tem abrigo pra todo mundo?
👀 O governo do Rio Grande do Sul tinha um plano de ação pra lidar com as mudanças climáticas engavetado desde 2017. Depois da tragédia no Vale do Taquari, no ano passado, rolou muita pressão e a equipe do tio Leite lançou o “Estratégias para as Ações Climáticas do ProClima 2050”, logo depois. Um dos pilares do plano é a resiliência climática, focado em enfrentamento e prevenção. E aí? O que foi feito até agora? Quanto foi investido? Onde tão as obras?
👀 O Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros com a bancada ruralista mais forte e atuante. Agora em março sua Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei que libera construções em Áreas de Preservação Permanente (APPs), zonas que contribuem justamente pra amenizar as consequências de fenômenos climáticos (eu tô dando gritos)!!!!
Antes do congresso aprovar o PL do Veneno, a mesma assembleia gaúcha já tinha se antecipado e aprovado um projeto que flexibiliza a aprovação de agrotóxicos. O território sulista também tem um dos menores índices de preservação da Mata Atlântica do país. Apenas 7% da mata nativa segue preservada. E, claro, é um dos pilares bem fincados do agronegócio. A terra de Getúlio Vargas se destaca como o terceiro maior produtor de grãos do Brasil. Entre seus produtos exportados, a soja transgênica e envenenada lidera, depois vem as carnes. Só coisinha fina que garante uma explosão de sustentabilidade.
👀 Os políticos gaúchos também são famosos nacionalmente por espalhar negacionismo climático. Mas nenhum deve superar o nível do senador Luis Carlos Heinze, aquele abençoado da CPI da Covid, que já afirmou em entrevistas que não acredita em aquecimento global.
Éééé, venener. A gente tem muito trabalho pela frente e ele passa pelo enfrentamento dessa guerra de discursos que tende a esvaziar ou negar a catástrofe climática. É urgente relacionar os fenômenos, listar as coincidências, legitimar e divulgar os relatórios do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima (IPCC), da ONU, e combater, pra variar, o exército de coronéis da ruralândia.
🔥Pra quebrar tudo: Gigantes do agro patrocinam estudos que minimizam a responsabilidade da pecuária no aquecimento global.
🤮 Pra relembrar: governo do ladrão de joias cortou 93% das verbas pra pesquisas em mudanças climáticas.
🔎Pra investigar: bancada ruralista tenta tirar o seu da reta em projeto de lei sobre mitigação das mudanças do clima.
📝 Pra aprofundar: episódio “Não é culpa da chuva”, do podcast Vozes do Planeta.
Vegetariana, macrobiótica e bebedora de chá de gengibre
As teorias por trás da vitalidade de Madonna aos 65 anos
Além das enchentes gaúchas, só se fala do mega show carioca que vai encerrar a Celebration Tour da nossa rainha Madonna. Confesso que tô amando acompanhar os diversos aspectos da vinda da artista que têm sido explorados pelos jornais, sites de fofoca, os programas de TV, perfis de subcelebs.
Todo mundo começou com Jesus Luz, o ex boy, respondendo que não iria ao show, sendo que ninguém perguntou. Depois a atenção se voltou ao tamanho da estrutura que a diva trouxe consigo: 3 aviões em pessoas e equipamentos, que ocuparam 90 quartos do Copacabana Palace.
Em seguida, tudo virou motivo de especulação: como seria a rotina da estrela no hotel, as participações brasileiras no espetáculo, as razões pro ensaio mascarada, os passeios da equipe pela cidade, quem são seus filhos. Aí não podia faltar a alimentação da matriarca do pop. Afinal, uma mulher de 65 anos numa turnê de 80 shows, com duas horas de duração cada, só podia esconder um truque babilônico, né?
A curiosidade foi grande não só pela sua idade, mas porque somos a nação do milagre da beleza, como uma boa cria dos Estados Unidos. Desde os anos 90 perguntamos à Angélica qual o segredo da barriga tanquinho e pra Gisele, as razões da pele de bebê. Descobrimos que a Sasha fez a dieta dos alimentos em pó, que a Giovana Antonelli emagreceu com a dieta cetogênica e amamos palpitar nos hábitos pós bariátrica de Jojo Toddynho.
Foram muitas as matérias brasileiras que se debruçaram sobre os segredos de Madonna. Descobriu-se com poucas evidências que a artista foi vegetariana até o nascimento da primeira filha, teve uma fase vegana e ainda não costuma comer muita carne, apesar de ter publicado uma foto recente macetando um espaguete à bolonhesa.
A teoria mais repetida pela onda de jornalismo investigativo é que a cantora de La Isla Bonita tem um chef especializado em alimentação macrobiótica a seu dispor, aquela mesma vertente que Gilberto Gil seguiu por um tempo e onde se come bastante grãos integrais. Uma nutricionista britânica que atendeu a musa por um tempo também já afirmou em entrevistas que a gata bebe água de coco, chá de erva doce e de gengibre a rodo.
Madonna também já explanou que tenta ficar longe de molhos cremosos e frituras (coitada!). E busca comer basicamente peixe e vegetais. Quando abre exceções, escolhe pizza, que aprendeu a amar em viagens a Itália. Não encontrei nenhuma referência a suplementos milagrosos, como whey e spirulina. UFA! hahahaha
Esses conteúdos bem apurados só esquecem um detalhe básico: o fato da artista ser trilhardária. Aqui que reside o milagre não replicável a todos os mortais. Assim como Gisele, Angélica, Beyoncé, ela tem diversos profissionais a seu dispor pra cuidar do estômago, da atividade física, dos tratamentos estéticos. Com uma fortuna de R$ 3 bilhões, a gata monta um laboratório de exames no quarto de visitas, faz hidroginástica com águas termais, manda um avião a qualquer momento trazer raiz de lótus colhidas na lua cheia por monges do Nepal, se quiser.
E outra. A gente não devia achar estranho ver uma pessoa de 65 anos tão ativa e bem disposta, né? O padrão precisava ser o contrário: todo mundo com mais qualidade de vida nas médias e grandes cidades pra ter condições de correr uma maratona aos 70, como o tio Drauzio Varella, subir ladeira aos 80, encarar uma excursão pra Caldas Novas aos 90. Enfim, pelo menos seguir fazendo atividades básicas com autonomia na terceira idade. Aquela série dos centenários, da Netflix, das zonas azuis, puxa uns debates legais dentro desse tema, pena que faltou toda a parte política do acesso à saúde e aposentadoria.
🐮Normal ou vegana de merda?
Se o mel é uma polêmica recorrente em discussões sobre veganismo, a gente tá fazendo algo errado, não? A impressão que me dá é que todo mundo não entende o boicote a esse alimento porque as abelhas, em tese, não sofrem.
Então não custa resgatar, mais uma vez, o beabá: veganismo é sobre libertação animal, não sobre o fim da “crueldade”. A gente não se contentaria com galinhas mais bem tratadas nas granjas dos fornecedores da JBS Aves. A gente quer o FIM das granjas. Esclarecido isso, podemos entrar rapidinho no assunto desta edição, que saiu de uma caixinha de perguntas no Instagram do Comida.
O boicote a produtos de origem animal é uma das estratégias de luta do movimento vegano, assim como a empresas e práticas que envolvem algum tipo de exploração dos bichinhos. Contudo, só faz sentido em esferas em que a gente tem escolha, né? Não tem super-heróis aqui! Quando se trata de comida, vestuário, lazer, esporte, cosmético, material de limpeza, temos mais possibilidade de buscar alternativas. Ou seja, o mel enquanto alimento não faz sentido dentro da dieta de uma pessoa vegana porque existem outras saídas.
Uma delas é um ingrediente com características semelhantes, de baixo custo, produzido pela agricultura familiar, pertencente à cultura de todas as regiões do Brasil e super nutritivo: o mel da cana de açúcar, também chamado de melado ou melaço.
Além disso, o mel da abelha costuma ser pasteurizado pra aumentar a durabilidade, o que reduz suas propriedades e o aproxima de um xarope de milho. Fora que muitos apicultores brasileiros criam abelhas exóticas, capazes de desequilibrar o ecossistema local, e usam produtos químicos, antibióticos…
Agora, se a gente colocar o fruto da atividade das abelhas no alçada do medicamento, o cenário ganha mais complexidade. É muito mais difícil conseguir alternativas entre produtos fármacos, especialmente porque os produtos liberados pela Anvisa passam por testes em animais, do mesmo jeito que vacinas e agrotóxicos.
Então a gente pode pensar em redução de danos. O extrato de própolis de abelhas nativas e sem uso de agrotóxicos pode ser uma alternativa menos pior que um medicamento sintético tradicional. Até porque tem a questão do impacto ambiental do descarte dos remédios, né, o que também afeta a nossa fauna. Mas outra questão se abre aqui e é difícil de responder: o uso do própolis substitui ou evita o uso de medicamentos?
Infelizmente, não dá pra alegar que o líquido contribui pro aumento da imunidade, gente. É muuuuuuuuuuito complicado mensurar que algo tenha essa capacidade no nosso organismo. Os estudos não são capazes de atestar isso por enquanto.
Mas temos evidências de que o extrato de própolis tem propriedades antiinflamatórias. A medicina popular mesmo já o inclui em receitas caseiras pra tratamento de dores de garganta, pra feridas na pele, há séculos. Só não pode ser usado de forma contínua! Isso quer dizer que nada de shot da imunidade com própolis, limão e cúrcuma em jejum todos os dias, viu, mona? Não seja doida. Também tome seus remédios quando precisar tomar e não me venha questionar vacina. Não aguento mais!!!!
Acabouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
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Obrigada por seguir comigo nessa jornada!
Um beijo e te espero sábado que vem,
Juliana.
Sobre o desastre que estamos vivendo aqui no RS, deixo essa notícia que mais parece um "eu te falei" da natureza:
15 julho 2021: História da Havan mostra desrespeito ao meio ambiente e à legislação local - “O meio ambiente é o câncer do país”, afirmou o empresário Luciano Hang [...] Em Lajeado, a Havan vai se instalar sobre uma área de preservação permanente. O grupo escolheu um terreno que chega até as margens do rio Taquari, afluente do Jacuí que deságua no Guaíba. “A Havan aterrou uma parte da área para a loja ficar mais alta, mas mesmo assim continua localizada em área de preservação permanente, por causa do rio Taquari e da mata ciliar”, denuncia Eduardo Luís Ruppenthal, biólogo, especialista em Biodiversidade e Meio Ambiente (UERGS) e em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS).
5 mai 2024: Chuvas no RS: loja da Havan fica debaixo d'água em Lajeado
Bah, Ju, eu fico emocionada demais cada vez que te leio/ouço/vejo!! Tu deveria ser imortalizada como patrimônio do Brasil! Aliás, isso seria pouco. O teu trabalho deveria ter espaço no lugar daquele programinha matutino sem serventia, né? Já que não tem, nos contentamos com tudo que tu disponibiliza pra gente aqui! Nesse exato momento, minha casa está 95% submersa aqui em São Leopoldo - RS; só o telhado aparece. Isso nunca aconteceu na região onde eu moro e é desesperador saber que só vou conseguir voltar lá daqui a uns 10 dias, porque tá vindo mais chuva pra cá. Quando a água chegou, só deu tempo de eu carregar meus 10 gatos e 3 dogs (quem oferecia pra me tirar de lá não queria levar eles, né? Não tinha espaço) pq a ajuda demorou. Está doído demais! Enfim, muito obrigada por externalizar esse tanto que muitos de nós sentimos. Por favor, não pare!!