Olá, venener! Bom sábado pra você. Tô escrevendo essa edição na sexta-feira, como sempre faço, mas tá sofrido porque minha internet tá um lixo imensoooooooo! Que ódio! Vou ter que dar uma enxugada aqui. Bem quando temos um assunto tão promissor e afrontoso pra destrinchar, como a relação entre extrema direita e as pautas ambientais. Além disso, eu costumo seguir na escrita e revisão até tarde, mas hoje não posso porque às 21h tem Brasil e Estados Unidos pela Liga das Nações de vôlei e eu tô pronta pra jantar hambúrguer hahahahaha.
Ah! Domingo o jogo contra a Sérvia deve passar na Globo pela manhã. Não sei se também é assim pra você, mas uma partida bem pegada de algum esporte decente funciona pra mim como um show bafo, uma aula de dança, uma viagem com amigas, um banho de alecrim com sal grosso. LAVA A ALMA!
Deixa eu correr aqui então! Boa leitura! :)
🌎GIRO DE NOTÍCIAS
Senado aprova regras pra adaptar cidades brasileiras às mudanças climáticas
Os senadores bolsonaristas tentaram de tudo pra adiar a votação, mas a catástrofe no Rio Grande do Sul pressionou o congresso a aprovar o PL 4129/2021 na última quarta-feira. Esse projeto, escrito pela deputada Tábata Amaral (PDT-SP) e já aprovado na Câmara, cria medidas pra reduzir os danos do aquecimento global, especialmente nas regiões mais vulneráveis, como os municípios gaúchos.
O documento poderia trazer ações mais concretas, viu? Até porque a gente sabe que a comunicação entre as esferas federal, estadual e municipal nunca é fácil, que um vai jogar a responsa pro outro, como acontece no Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, de fato, todo mundo precisa participar de um plano desse tipo. Não tem como fugir da integração, que deve ser encabeçada por uma autoridade lá de Brasília, ainda não definida pelo barbudinho.
Por enquanto, tá estabelecido que o governo federal tem um ano pra publicar o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, prazo que começa a valer assim que o projeto for publicado no Diário Oficial (ainda falta a Câmara aprovar as mudanças no texto e depois a sanção do presidente).
Segundo o projeto, as medidas priorizam obras de infraestrutura urbana, com foco nas áreas de transporte, comunicação e energia. Acredito que saia daí algum tipo de sistema unificado pra informar as pessoas sobre a proximidade de fenômenos extremos, a exemplo do que acontece com tornados nos Estados Unidos e terremotos no Japão. Os dois países mandam mensagens pra população via SMS de forma bastante assertiva em situações desse tipo e sem necessidade de cadastro prévio.
Outro ponto do texto cita a criação de medidas (a definir) que fortaleçam o setor agropecuário por meio de técnicas de agricultura de baixo carbono, risos, risos. E lá vamos nós mais uma vez. Lembra, venener? São técnicas pensadas pra minimizar as emissões de gases na atmosfera e podem ser maravilhosas, ÓBVIO, como a redução do uso de fertilizantes químicos nas lavouras, transição pro sistema agroflorestal, práticas de reflorestamento, de recuperação da vegetação nativa no entorno.
Ou podem ser super pilantras, como plantar uma monocultura de espécies comerciais, como eucalipto, junto a uma criação de gado pra tentar neutralizar a emissão de carbono (a pecuária carbono “zero”) ou recuperar pastagens degradadas plantando soja, como o governo do esposo da Janja já recomendou, pro nosso completo desespero!!!!!!!
Enfim, o mecanismo mais eficiente pra implementar a agricultura de baixo carbono é fazer reforma agrária e demarcar terra indígena, terra quilombola, mas a gente sabe que o governo acha essa conversa radical demais, que vai incomodar muito a bancada ruralista, blábláblá.
Do jeito que tá colocado no projeto de lei da tia Tábata, não vai mudar nada. O novo Plano Safra lançado pelo presidente Lula já inclui melhores condições de financiamento e redução de juros pra produtores rurais que invistam nessas técnicas de baixo carbono. E até agora NADA MUDOU, porque continua sendo mais vantajoso produzir as mesmas commodities de sempre seguindo o modelo sanguessuga e colonialista de agricultura: monocultura + máquinas + agrotóxicos + sementes transgênicas + fertilizantes oriundos de combustíveis fósseis.
Qualquer projeto, diretriz, proposta, medida, plano ou sonho (tá quase nesse campo) voltado a reduzir os impactos das mudanças climáticas precisa colocar a atividade agropecuária no centro do debate. E estabelecer medidas rígidas, coercivas, punitivas pros desmatadores. Senão a gente só segue nesse joguinho de faz de conta e o agro continua sendo responsável por 74% dos gases de efeito estufa emitidos pelo Brasil.
A elaboração desse projeto de lei aí inclui a sociedade civil, amém, por meio do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Esse Fórum tem bastante gente legal dentro e funciona como um órgão de assessoria e aconselhamento da presidência da república. Pode ser uma das nossas ferramentas pra acompanhar as andanças desse projeto e pra brigar por medidas realmente efetivas.
Tem outra. Se a gente levar em conta que 47 dos 81 senadores integram a bancada ruralista e não costumam nem reconhecer a existência do aquecimento global, a aprovação do PL 4.129/2021 pode ser considerada uma vitória, sem dúvida.
Mas só vai dar pra comemorar mesmo se a gente conseguir barrar os 25 projetos + três propostas de emenda que compõem o Pacote da Destruição. Em linhas gerais, é a personificação da boiada passando em todas as frentes possíveis, dos direitos indígenas ao licenciamento ambiental, e que tá pra ganhar o aval dos parlamentares.
“A aprovação do projeto de lei 4129/21 traz uma agenda positiva nesse momento de emergência climática. Com esse projeto, as cidades, os estados e o país têm como avançar em um plano estratégico de clima e adaptação. Para isso, é fundamental usar a natureza, promovendo a restauração dos ecossistemas, como a Mata Atlântica, bioma que reúne mais de 70% da população do país em 17 estados. É importante também não permitir mais retrocessos na legislação ambiental brasileira. Esse é o primeiro passo de uma resposta importante que o Congresso Nacional pode dar ao nosso país.”
Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica
Extrema direita x emergência climática
Apesar de ser comum aos cidadãos de bem brasileiros, o negacionismo vem perdendo força entre os reaças gringos
Um Estado autoritário, policianesco, que insiste na criação de uma identidade nacional sem qualquer diversidade e baseada no conservadorismo moral. Eu poderia estar descrevendo Gilead, território criado por Margareth Atwood no livro O conto da aia (que virou série), certo? Ou a base do discurso propagado por Donald Trump (EUA), pelo primeiro-ministro Narendra Modi (Índia), pelo nosso ladrão de joias inelegível e sua corja ou pelos presidente Javier Milei (Argentina), Erdoğan (Turquia) e Viktor Orbán (Hungria). Quem sabe pela deputada francesa que disputou o segundo turno com Macron, a fofa da Marine Le Pen, ou pelo sempre citado Adolf Hitler.
Apesar dessas características afins, políticos, militares e pensadores que podem ser enquadrados na vertente da extrema direita divergem em vários outros assuntos, como as mudanças climáticas. Aliás, se você leu o livro ou assistiu a O conto da Aia deve imaginar que o nosso querido ex-ministro motosserra, Ricardo Salles, não seria bem aceito na distópica Gilead, conhecida pelos alimentos orgânicos, ar puro e águas limpas. Na verdade, seria sim, né? Porque a ideologia dessa gente é o oportunismo acima de tudo.
A extrema direita europeia, por exemplo, têm abandonado a postura negacionista com o objetivo de respaldar sua principal ofensiva xenófoba: o combate à imigração. De acordo com os pesquisadores Joe Turner e Dan Bailey, que publicaram um estudo sobre os partidos extremistas europeus em 2022, o negacionismo perdeu força porque a proteção ambiental serve melhor pra proteger os privilégios das populações locais europeias. Com esse discurso, é possível impor restrições nas fronteiras e colocar nos imigrantes, muitos vindos de suas ex-colônias, a responsabilidade pela degradação da natureza.
O país do brownie segue um fluxo parecido, onde as pautas ambientais não ficam restritas às pessoas progressistas, de esquerda. À medida que as notícias e os alertas sobre as consequências do aquecimento da terra emergem, ideias como as do advogado Madison Grant, um dos percursores do ecofascismo nos Estados Unidos, voltam a bombar. Nos seus livros, o energúmeno da velha guarda associava tradições nacionalistas, aquela palhaçada patriótica, à valorização do equilíbrio ecológico, à romantização do campesinato. Supremacistas brancos e movimentos conservadores como o Council of Conservative Citizens também justificam suas pautas racistas, como o controle de natalidade, e suas ações criminosas com o discurso da preocupação com a emergência climática.
Já aqui pelas nossas bandas, assim como em outros países do sul global, a extrema direita segue atrasada na modinha fascista e insiste no negacionismo climático. Não há imigrantes pra barrar, né? Mas interesses de proprietários de terras, setores extrativistas e grandes conglomerados pra defender.
Para o professor Renato Souza, do Programa de Pós Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria, o nosso negacionismo ambiental e climático não é um ataque direto à ciência, isso é apenas uma consequência. A galera que prega essa corrente ideológica precisa evitar restrições ambientais pra manter seus financiadores e aliados expandindo suas atividades infinitamente.
Eu acrescentaria mais: é muito mais fácil ser um político ou um “intelectual” de extrema direita. Primeiro: você conquista um exército de seguidores facilmente com base no medo. O pânico é a forma mais eficiente de cooptação. Dá até pra alternar entre o comunismo, a corrupção, o banheiro unissex, a pedofilia.
Segundo: você não precisa fazer nenhum esforço cognitivo de pensar, discutir teses, de pesquisar propostas. Basta escolher 5 chavões apelativos, como “bandido bom é bandido morto” e o “MTST vai roubar a sua casa”, e repetir em todas as entrevistas, palanques, debates eleitorais.
Terceiro: você aproveita a fé e crença das pessoas pra colocar Deus e o acaso como justificativas pra tudo, o que te livra da responsabilidade de comprar vacina, de ampliar os restaurantes populares, de recuperar rios, de se debruçar sobre questões complexas, como segurança pública, evasão escolar, transição energética.
Na última quarta, o único senador a votar contra as diretrizes pra adaptar as cidades brasileiras às mudanças climáticas só podia ser ele, Flávio Bolsonaro. O melhor de tudo é que o encosto propôs uma alternação no texto que foi aceita pelo relator, pra depois votar contra hahahaha.
Ele pediu pra incluir a iniciativa privada na elaboração dos planos, pois (obrigada por nos lembrar, Flávio) a extrema direita brasileira é neoliberal e entreguista antes de qualquer coisa.
😹 CHORO CURTO, MAS RIO COMPRIDO
[Esse é mais um quadro novo do Jornal do Veneno, que vai trazer novidades dignas de choro de tristeza, mas que de tão bizarras fazem o riso sobressair. O nome é inspirado num bloco de carnaval sediado no bairro Rio Comprido, Rio de Janeiro, onde eu e o conje moramos por uns anos]
É impressionante do que uma subcelebridade é capaz pra somar likes. Na verdade, não importa se estamos falando de coisas ilegais, como sorteios; abusivas, como explorar a imagem de crianças pra ganhar dinheiro; apelativas ou inusitadas. Mais engajamento quase sempre rende mais publi, mais clientes pra suas empresas, novos convites pra eventos.
Eu só fui conhecer o influencer Carlinhos Maia (31 milhões de seguidores) por conta das suas festinhas icônicas no meio da pandemia de covid. Depois, mesmo sem querer, ouço seu nome ser repetido quase toda semana em alguma publicação de fofoca. Já teve fraude na rede de hamburguerias que leva o seu nome. Ou foi um banco? Teve toda uma gama de barracos com o conje, que agora ganhou um programa no SBT. Os aniversários apoteóticos. As inimizades acumuladas entre pseudofamosos. O episódio das funcionárias sem equipamento de proteção limpando os coqueiros de sua casa. E os tratamentos estéticos. Sempre eles.
A última do bofe veio importada dos States, mais precisamente copiada da atriz Jennifer Aniston: um tratamento facial com injeção de sêmen de salmão na pele, prática proibida pela Anvisa. Ao contrário da terra de Friends, o Brasil só permite o uso do polynucleotide DNA repair, o derivado do esperma do peixe com potencial de estimular a produção de colágeno, em cremes.
Procurei, venener, mas não encontrei o mecanismo utilizado pra extrair essa substância do salmão. Seriam criações de cativeiro específicas pra isso? É necessário manter o animal num tanque dentro de um laboratório? Quem faz o processo? De que forma? Existe regulamentação pra essa atividade?
Nenhuma das dezenas de reportagens que encontrei sobre o assunto trataram da origem do insumo, que é um ser vivo. Inclusive, um dos seres vivos mais manipulados pela humanidade, com direito a confinamento, hormônio pra mudança de sexo, corante, antibiótico, e ração de soja transgênica envenenada. Ou seja, o puro suco da saúde e do rejuvenescimento, né? O coitado do salmão anda muito mais próximo de uma salsicha do que da sardinha.
Fechamos por hoje?
Olha só, vamo combinar de continuar apoiando o FundoCrioula? As pessoas e os bichinhos vão precisar de apoio por um bom tempo. Quem sabe cada um de nós chega a um valor que não pesa no bolso, mas é possível de ser transferido mensalmente?
Aaaaaaaaaaah! E vou voltar a brigar com quem tá comentando essa news no Instagram e não aquiiiiii, pra todo mundo ver! Bora, gente!
Também peço perdão pela insalubridade desse jornal. Sem planejar, só deu uma macharada tóxica, incluindo a gay influencer. Obrigada por dividir tudo isso comigo e pelo apoio de sempre.
Um beijo e até sábado que vem,
Juliana.
Adoro as referências intertextuais literárias, mesmo que seja a desgraçada toda hahahaha
A gente ama o Jornal do Veneno (e odeia quem torna ele insalubre). Ótimo jornal, Ju! Ameiiii